Maputo (Canalmoz) – A autoproclamada Junta Militar da Renamo, até agora chefiada pelo general Mariano Nhongo, convocou a imprensa, no sábado, em Piro, no interior da Gorongosa, para reafirmar que Ossufo Momade, presidente da Renamo, não representa os militares e, devido a isso, todos os actos por si praticados, mais concretamente a assinatura do Acordo de Paz, em 6 de Agosto, não os vincula. Assim, exigem negociar com o Governo sem Ossufo Momade.
Os militares anunciaram também o cancelamento do Acordo de Paz. Desta vez, quem usou da palavra foi João Machava, na qualidade de porta-voz dos guerrilheiros. João Machava é o comandante provincial das forças residuais da Renamo em Inhambane.
“A verdadeira Renamo armada somos nós. Ossufo Momade, a quem nós deixámos de considerar presidente há mais de um mês, traiu os interesses da Renamo. Assinou um Acordo de Cessação Definitiva das Hostilidades e um Acordo de Paz de Maputo e aprovou o DDR sem consultar os guerrilheiros e muito menos os órgãos do partido. A Comissão Política, o Conselho Nacional e até a bancada da Renamo na Assembleia da República, que agora deve apoiar a transformar os acordos em leis, não foram consultados. O mais grave é que mais de metade dos guerrilheiros não estão inclusos no processo de reintegração”, explicou aos jornalistas.
João Machava desmentiu, entretanto, a informação segundo a qual há contacto entre a Junta Militar e a Direcção da Renamo para se pôr fim ao desentendimento.
“O primeiro passo que a Junta Militar da Renamo irá seguir, na próxima segunda-feira [amanhã], logo depois da eleição do presidente do partido, é criar um grupo de contacto para estabelecer de imediato um diálogo com o Governo com vista a renegociarmos o processo de desarmamento, desmobilização e reintegração das forças residuais das nossas forças. O nosso objectivo não é retornar à guerra ou desestabilizar o país. Queremos um DDR justo onde os verdadeiros guerrilheiros da Renamo e sem excepção sejam efectivamente reintegrados na sociedade e contribuam para a reconciliação nacional. Queremos ser membros activos neste processo.”
A proclamada Junta Militar esteve reunida em Conferência Nacional Extraordinária, de três dias [termina hoje, segunda-feira], na região de Piro, nas proximidades da Serra da Gorongosa, em Sofala, com o objectivo principal de eleger o seu dirigente, em substituição de Ossufo Momade, que alegam ter sido destituído Junta Militar.
João Machava, que falava à imprensa, na ocasião daabertura da referida Conferência, exortou, por outro lado, o Governo a mostrar abertura na renegociação do processo de desarmamento, desmilitarização e reintegração com o seu novo dirigente.
“Nunca fomos contactados pela liderança do partido e todos os contactos que já efectuamos no sentido de pedir explicações sobre o processo de DDR não foram acedidas. Ninguém sabe dizer-nos como será o processo de reintegração. Não há nenhuma clareza, tal como aconteceu em 1992, depois da assinatura do Acordo de Paz em Roma, que depois arrastou o país para um outro conflito. Pensamos nós que não há espaço para novos conflitos. Queremos, de forma activa, contribuir com acções que visem o desenvolvimento do país, e tal facto só será possível se ninguém se sentir injustiçado a ponto de recorrer a armas para exigir reintegração justa. Do nosso lado, concluímos que não há espaço para negociar com a Renamo. Aliás, como negociar com a Renamo, se a Renamo somos nós? O que pode haver é entendimento com os nossos membros. Vamos, sim, dialogar com o Governo”, acrescentou o porta-voz da Junta Militar da Renamo.
Tudo indica que o major-general Mariano Nhongo será o presidente da Junta Militar da Renamo. Confrontado com esta possibilidade, referiu que tal facto dependerá dos participantes na Conferência e acrescentou que, se estafor a vontade dos membros da Junta Militar, aceitará de bom grado as funções de presidente e mobilizará todas as suas capacidades de diálogo para, junto do Governo,encontrar desfecho do processo de desarmamento, desmobilização e reintegração de forma pacífica.
“Apelamos ao Governo no sentido de renegociar o DDR com o presidente da Junta Militar da Renamo de forma pacífica. Queremos contribuir para a consolidação efectiva da paz e, para que isso aconteça, ninguém deve sentir-se excluído neste processo. Somos todos moçambicanos, e deve haver justiça para todos. Exigimos um DDR justo e inclusivo e não a conta-gotas e sem clareza, como o general Ossufo Momade negociou, deixando de fora mais de metade dos guerrilheiros”, afirmou Mariano Nhongo.
Questionado sobre a capacidade militar e de número de armas em sua posse para fazer frente às forças governamentais, Nhongo respondeu: “Temos muitas armas em todo o território nacional, temos mais de quinhentos homens armados disponíveis para entrar em acção a qualquer momento, caso não se chegue a um consenso”. (José Jeco)