Maputo (Canalmoz) – A Confederação das Associações Económicas de Moçambique, na sexta-feira da semana passada, apelou ao boicote à paralisação geral das actividades na segunda-feira, convocada por Venâncio Mondlane. Num comunicado lido pelo seu vice-presidente, Prakash Prehlad, a CTA disse: “Nenhum dos nossos membros, tais como comércio, bancos, transportes e restauração irá aderir a qualquer paralisação”.
A verdade é que a cidade de Maputo esteve paralisada. O comércio e os serviços privados e os serviços públicos não abriram. O “Canalmoz” fez uma ronda pelas principais avenidas, e a cidade estava deserta. De forma activa ou implicitamente, o povo aderiu ao apelo de Venâncio Mondlane de paralisação total contra a fraude eleitoral e contra o assassinato de Elvino Dias, seu advogado e mandatário nacional, e de Paulo Guambe. Pode-se afirmar que Venâncio Mondlane tem legitimidade popular e que as suas orientações são seguidas pelo povo moçambicano.
A CTA, na comunicação que fez na sexta-feira da semana passada, disse que uma paralisação a nível nacional acarretaria enormes prejuízos económicos e sociais, afectando principalmente a classe trabalhadora e suas famílias.
“As consequências sobre a carestia de vida e o impacto sobre a tesouraria das empresas limitarão a capacidade das entidades empregadoras de cumprirem as suas obrigações salariais”, dise a CTA e alertou para o aumento da vulnerabilidade económica.
A CTA apelou às Forças de Defesa e Segurança para que protejam os empreendimentos empresariais, que muitas vezes se tornam alvo de manifestantes. “Os empreendimentos empresariais costumam ser alvo dos manifestantes é necessário manter as actividades comerciais em pleno funcionamento.”
O facto é que os agentes económicos não cumpriram a exortação da CTA e agiram ao contrário, encerrando o comércio.
Os terminais dos transportadores da Praça dos Combatentes (Xiquelene) e do Mercado do Xipamanine, que normalmente registam enchentes dos passageiros diariamente, ontem estavam vazios.
Os transportadores, que dependem das receitas diárias para sustentar suas famílias e cobrir os custos operacionais dos seus veículos, foram os mais afetados pela falta de passageiros.
Em declarações ao “Canalmoz”, os motoristas de “chapa” no terminal do Xiquelene, manifestam frustração com os prejuízos acumulados.
“Consegui fazer uma única viagem. Sem passageiros não há como ganhar nada. Precisamos do dinheiro diário para sobreviver, e ficar parado só traz mais dificuldades”, afirmou Ernesto Gouveia.
A paralisação também afetou as actividades comerciais nas áreas dos terminais, pois muitos vendedores dependem do movimento gerado pelos passageiros para realizarem as suas vendas diárias.
No Mercado do Xipamanine, os transportadores lamentavam as perdas financeiras. Manuel Simango motorista de “chapa”, disse que a greve trouxe vários prejuízos. “Trabalhamos em condições já muito difíceis, e agora estamos a perder dinheiro todos os dias. Se esta situação continuar até ao fim do dia, muitos de nós não terão como sustentar as famílias”, afirmou.
A situação ficou mais tensa quando as autoridades puseram em acção a Unidade de Intervenção Rápida para dispersar os manifestantes. O protesto, que inicialmente seguia de forma pacífica, rapidamente se transformou em confronto após os agentes da UIR utilizarem balas de gás lacrimogéneo para controlar a situação.
Um dos manifestantes, que preferiu não ser identificado, afirmou: “As pessoas começaram a correr quando a Polícia chegou. Vi colegas a serem atingidos pelo gás. Não bastava já termos ficado sem trabalhar, agora temos de lidar com ferimentos”.
A falta de transporte público gerou um impacto negativo em toda a cidade. Milhares de trabalhadores e estudantes ficaram sem meios para se deslocarem, o que resultou em faltas ao trabalho. Clara Matola, empregada doméstica, disse que não conseguiu chegar ao emprego devido à falta de transporte. “Estou preocupada. Hoje não fui trabalhar porque não havia como chegar lá, e o patrão não vai pagar por este dia perdido. Dependemos dos transportes públicos, e, quando eles param, a nossa vida fica ainda mais difícil.” (Joana da Lúcia)