Maputo (Canalmoz) – Um relatório do Observatório do Meio Rural, intitulado “50 anos de pobreza rural em Moçambique: da trajectória às soluções para o futuro”, traça um retrato devastador da pobreza estrutural que assola o país desde 1975 e responsabiliza directamente o Estado pela manutenção de um sistema económico excludente e discriminatório.
O autor do estudo é Yasser Arafat Dadá, investigador, e não poupa palavras: “As políticas públicas ao longo destas cinco décadas falharam redondamente em mudar a realidade da maioria da população rural. O Estado tem sido cúmplice na produção e reprodução da pobreza”.
Segundo o relatório, mais de 70% da população moçambicana vive em áreas rurais e sobrevive essencialmente da agricultura de subsistência. Apesar de sucessivos planos e estratégias de combate à pobreza, os níveis de exclusão e vulnerabilidade nas zonas rurais mantêm-se alarmantes.
“O que se vê é uma continuidade da marginalização do mundo rural, com pouca presença do Estado em áreas cruciais como Educação, saúde, infra-estruturas e acesso à terra”, diz Yasser Dadá.
O estudo aponta que, mesmo após o fim da guerra civil e a adopção do modelo económico liberal, as políticas implementadas pouco beneficiaram os pequenos produtores.
Um dos pontos mais críticos mencionados no relatório é a concentração de terras férteis nas mãos de investidores privados. “Temos assistido, sobretudo nas últimas duas décadas, a um processo sistemático de concessão de terras comunitárias a grandes projectos agro-industriais, muitas vezes sem consulta adequada às populações locais. O resultado é o empobrecimento das comunidades e a perda da sua soberania alimentar”, afirma o autor.Ler mais na versão PDF, mediante subscrição.