Maputo (Canalmoz) – A Embaixada da Rússia em Moçambique, confirmou, na quarta-feira, 21 de Maio, o ataque a um navio que navegava com bandeira da Rússia próximo das Ilhas Mtembuzi e Vamizi, no distrito de Mocímboa da Praia, na província de Cabo Delgado.
Polina Zhukova, adida de imprensa na Embaixada da Rússia em Moçambique, disse, em declarações ao “Canalmoz”, que o navio estava a fazer pesquisas da biomassa marinha na área de Moçambique, no âmbito dos Acordos com o Instituto Oceanográfico de Moçambique, quando o navio foi alvo de ataque a partir de pequenas embarcações.
“Confirmamos o ataque ocorrido contra a nossa embarcação. O navio já partiu de Maputo e está em Durban e vai continuar com a sua expedição. Não houve danos muito avultados, por isso o navio conseguiu finalizar as suas actividades de pesquisa”, disse Polina Zhukova.
E acrescentou que, depois do ataque, o navio conseguiu retornar ao porto de Maputo e depois partiu para o posto de Durban, onde será reparado.
“Até ao momento, pouco ou quase nada se sabe sobre o ataque, apenas confirmamos a ocorrência”, disse.
O administrador de Mocímboa da Praia, Sérgio Cipriano, é citado pela estação de televisão privada STV a afirmar que, em 7 e 8 de Maio, recebeu uma comunicação sobre um acto de pirataria quase no alto mar.
“Embarcações motorizadas atacaram um navio que estava a realizar trabalhos de pesquisa. O comandante do navio russo levou o navio para o alto mar, e como as embarcações do grupo armado não tinham autonomia para navegar em águas profundas, voltaram e seguiram em direcção ao Rio Messalo, onde têm um esconderijo de embarcações que arrancam aos pescadores e agentes económicos locais”, disse Sérgio Cipriano.
E acrescentou que tem quase a certeza de que se trata do grupo armado instalado em Cabo Delgado desde 2017.
“Não há dúvidas de que é este grupo armado, porque circula na zona costeira, e as embarcações usadas nessa tentativa de assalto foram arrancadas aos pescadores alguns dias antes da chegada do navio russo a Cabo Delgado, de acordo com informações de testemunhas que relataram movimentos estranhos no mar no dia do ataque. São embarcações de fibra de vidro, oferecidas pela ‘Total’ a algumas Associações de Pescadores no âmbito do plano de reconstrução de Cabo Delgado pós-terrorismo”, afirmou.
Sérgio Cipriano põe de lado a possibilidade de o ataque ter sido um erro cometido pelas Forças de Defesa e Segurança, uma vez que a presença do navio era do conhecimento das autoridades.
“Já nos tinha sido comunicada a presença desse navio, que estaria a fazer pesquisas na costa moçambicana, incluindo Mocímboa da Praia. Informámos as Forças de Defesa e Segurança para evitar confusões, mas, infelizmente, houve essa insurgência”, afirmou.
A tentativa de assalto ao navio russo aconteceu numa altura em que o grupo armado voltou a intensificar os ataques terroristas, alguns dos quais têm sido registados nos arredores da vila-sede do distrito.
Segundo relatou o administrador do distrito, no dia 5 de Maio, cerca da 1h00 da madrugada, o grupo armado foi à aldeia Ntotwe, onde revistou as casas à procura de mantimentos. Mas a população não tinha nada. Apenas levaram vinte e cinco galinhas. Depois, dirigiram-se à zona comercial da aldeia, onde assaltaram quatro barracas e levaram quase tudo o que encontraram, concretamente, arroz, farinha, óleo, refrigerantes e bolachas. Na retirada, encontraram três mulheres, deixaram duas que tinham bebés e levaram uma adolescente de catorze anos de idade.
Depois de Ntotwe, o grupo armado assaltou uma ilha localizada no limite entre os distritos de Mocímboa da Praia e Palma.
“No dia 11, por volta das 16h00, um grupo de quatro terroristas, numa embarcação motorizada, assaltou a Ilha Muicungo, no posto administrativo da vila-sede. À saída, carregaram as embarcações com os produtos de que necessitavam e saíram da ilha”, disse Sérgio Cipriano.
Desde que o grupo armado voltou a circular em Mocímboa da Praia, em Dezembro de 2024, milhares de pessoas que haviam regressado às zonas de origem, algumas das quais tinham acabado de reconstruir as suas casas, voltaram a abandonar as suas aldeias e a viver como deslocados.
“Devido à insegurança, as aldeias de Marere, Kalungo, Luchete, Nazimoja, Nacitenge, Ntanga, Chitolo e Antadola, onde uma parte da população já havia regressado, estão agora abandonadas. Algumas dessas pessoas já haviam abandonado desde 2023. A maior parte vive actualmente na vila-sede, enquanto outras regressaram à zona de origem apenas temporariamente”, afirmou.
Ler mais na versão PDF, mediante subscrição.