“Se o presidente da CNE foi coagido a falsificar estas eleições, ou se o faz por iniciativa própria, vai dar ao mesmo. O facto é que o bispo Carlos Matsinhe nunca se opôs a essa subversão de transformar o errado em certo, e vice-versa, e até se diverte em incendiar o país. Não admira que os beneficiários dessa ilegalidade estejam disponíveis para irem às suas missas e o apelidem de “grande exemplo de moral”. Qual moral, qual quê? É um “quid pro quo” na seita que professa o Mal. E os mais novos vão assistindo a como é que se vende um homem por trinta dinheiros, no mercado da decadência humana.”
Dois acontecimentos, duas notícias. A primeira notícia é a de que o presidente da Comissão Nacional de Eleições está a ser condecorado numa cerimónia religiosa de passagem à reforma da actividade eclesiástica. E, para o efeito, são lidas várias mensagens de louvor exaltando um homem de “grandes valores” e um “digno obreiro do episcopado”, um homem “cuja ética deve inspirar os mais novos” e o “serviço à Igreja e à comunidade”.
Para dar um cunho de solenidade ao evento, estão lá o chefe do Estado em exercício, dois antigos chefes do Estado, a presidente do Conselho Constitucional, a procuradora-geral da República e outros dirigentes do Estado, que, feliz ou infelizmente, coincidem com os dirigentes de uma determinada força política, neste caso, o partido Frelimo.
E esses dirigentes subscrevem as qualidades éticas e morais do presbítero condecorado e, no fim, vão todos posar para uma foto para a posteridade.
A segunda notícia já não tem rostos nutridos nem vestes de gala, civis ou eclesiásticas. E nem sequer é na capital. É lá no extremo norte. A notícia tem vários ângulos. Podia ser sobre a crise no sector da Saúde, ou sobre o descaso da Administração. Mas peguemos pelo lado humano da história. Um rapaz de 12 anos de idade ficou com uma deficiência definitiva no braço porque o Hospital Central de Nampula não tem gesso para aplicar aos pacientes que tenham torcido ou deslocado algum dos seus membros.
E para não ficarem a assistir aos pacientes e mandá-los voltar para casa com as suas dores, os médicos decidiram puxar da criatividade para fazer alguma coisa pelo povo. Estão a usar restos de caixas e cartolinas e a envolvê-los com algodão e a transformá-los em gesso. Claro que esse material nunca vai ser gesso. É caixa.
E porque as caixas foram feitas para empacotar electrodomésticos e outros objectos corpóreos móveis, jamais vão desempenhar a função de gesso. E, como consequência, um rapaz de 12 anos de idade, que deslocou o braço, agora vai ter de viver com uma deformação permanente, correndo o risco de o braço se tornar incapacitado, por uma causa evitável. Isto, caros leitores, é no Hospital Provincial de Nampula. O nível mais alto dos hospitais na zona norte. É só imaginar o que está a acontecer nos distritos.
O Estado, em clara omissão de dever, recusa-se a colocar no hospital algo tão básico como o gesso. Ninguém é responsabilizado, e o culpado será o rapaz, que deslocou o braço irresponsavelmente num país onde sabia que o Estado só tem caixas para empacotar braços.
Ler mais na versão PDF, mediante subscrição.